quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Entrevista a Frei João Domingos

Frei João Domingos, é um Padre Dominicano que trabalha em Angola como missionário há cerca de 27 anos. No ano passado foi considerado a Figura do Ano, neste país africano. É amigo da família Pedrosa desde sempre e como esteve em Portugal, nos últimos 2 meses, acabou por visitar a sede de candidatura do Dr. José Carvalho Pedrosa. Aproveitamos o momento, e, fizemos algumas perguntas, em jeito de entrevista, sobre o candidato do III – Movimento Cívico Independente de Alcobaça.

1. João Tiago / LOTO – Frei João Domingos, sabemos que é amigo do Dr. Pedrosa e família há muitos anos; sabemos que valoriza e acompanha a política não só em Angola, mas também em Portugal e no mundo, como membro da Igreja Católica o que é que acha desta intervenção política do Dr. Pedrosa?

FJD: Todo o cidadão deveria acompanhar e intervir na política, sobretudo localmente, a nível autárquico. É aí que se analisa a vida e o ambiente, é aí que se planeiam novas intervenções, é aí que se avaliam as acções dos diversos líderes e responsáveis políticos, que se conhecem as pessoas, se monitorizam, isto é, analisam e avaliam, as realizações, os orçamentos e as contas da autarquia para o melhoramento da qualidade de vida de todos os cidadãos e de toda sociedade civil. Isto é a tarefa de todos os cidadãos e não só dos políticos dos partidos ou dos “governantes”.
Além disso, como cristão esta obrigação é reforçada pela Doutrina Social da Igreja que orienta para uma intervenção directa na vida partidária, entrando nos partidos ou criando novos partidos, como diz o papa Paulo VI na encíclica Octogessima Adveniens de 1971.

2. João Tiago / LOTO - O que é que pensa do facto do Dr. Pedrosa se apresentar como independente? Não seria melhor apresentar-se dentro de um partido, podendo aproveitar a máquina partidária?

FJD: Depende das situações concretas. O próprio Paulo VI dizia, como disse há pouco, que a participação dos cristãos deverá ser ou militando num partido já existente ou criando outro. Se os paridos existentes estão a realizar as suas tarefas de modo satisfatório, será melhor não criar novos partidos. Mas se os partidos se deixam envolver de tal modo nos seus interesses partidários ou pessoais, de modo que os interesses das populações se deixam de lado ou se colocam ao serviço dos interesses dos membros dos partidos ou governantes, torna-se obrigatório encontrar uma alternativa.
O que está em jogo é o Bem Comum, o interesse do Bem Público, responder às necessidades dos cidadãos, sobretudo daqueles mais desprotegidos que não têm capacidade de se fazer ouvir ou defender e reclamar os seus direitos.
Com efeito os partidos e governantes devem estar ao serviço das populações e da melhoria da qualidade de vida das mesmas. E é isso que eles prometem. Mas os autarcas devem abrir os olhos e ver o que acontece de facto, e, tirar daí as suas conclusões. Por isso, uma candidatura independente pode justificar-se e até ser uma alternativa feliz, ou seja, ser «um sinal dos tempos» para corrigir situações e abrir caminho a uma nova amaneira de fazer política: política ao serviço do Bem Comum, do Bem público.
No fundo é a essência da democracia: “poder, governo do povo, pelo povo e para o povo”.

3. João Tiago / LOTO - O Dr. Pedrosa tem credibilidade para se lançar nesta iniciativa?

FJD: Vou dar o exemplo de um caso da minha experiência: numa Comunidade cristã do Waku Kungo, estávamos a escolher o catequista (responsável, ancião) da Comunidade. Ao falar das qualidades de um bom catequista, alguém do meio da assembleia, afirmou: “Cuidado: quem não é capaz de governar bem a sua casa, também não serve para governar a comunidade”. Conto isto para dizer que, tanto quanto eu conheço o Dr. Pedrosa, ele já deu provas de possuir as qualidades essenciais necessárias para um presidente de Câmara:
Como homem, tem mostrado ser um  homem sério, honesto, coerente e responsável;
Como esposo e pai, igualmente tem revelado estas mesmas qualidades e coerência;
Como profissional - médico, tem sido um médico amigo dos seus doentes, atento e com  tempo para os escutar, os medicar e aconselhar. Muitas pessoas, de Alcobaça e arredores, terão a experiência disto que eu afirmo pelo pouco que eu próprio conheço. Tem sido um médico competente e sério, ao serviço dos outros e não de si próprio ou dos seus interesses. Se foi escolhido para director do hospital por alguma razão foi.
Como cidadão interveniente e empenhado na política, também já mostrou ser alguém competente e interessado no bem das populações. Nisto eu conheço menos, mas a população de Alcobaça conhece bem o que ele tem sido. E mais poderia ter feito, se fosse ele a presidir às opções, decisões e governação. Mas nisto, deixo o juízo aos cidadãos de Alcobaça.
Em síntese, penso que o Dr. Pedrosa tem trunfos suficientes para se lançar nesta proposta independente e que será uma mais-valia para o processo eleitoral da autarquia e, quem sabe? Um caminho novo que se abre ao concelho de Alcobaça.
Quando se poda uma árvore, parece que estamos a destruir o que existe; com o andar do tempo, constatamos que foi uma renovação necessária, útil e proveitosa para a árvore e para as pessoas.

4. João Tiago / LOTO - Como amigo da família Pedrosa, conhece certamente o trabalho social que a esposa realizou em todos estes anos, com os mais pobres: toxicodependentes, alcoólicos, situações desumanas e anti-sociais de toda a ordem. Embora não pareça ser algo do domínio da política, acha que a actividade da D. Elizabete tem algo a ver com este projecto do Dr. Pedrosa?

FJD : Acho que é uma feliz coincidência e acaba por ser um apoio directo e indirecto à proposta do marido. A Elizabete é uma técnica de Serviço Social, que sempre mostrou uma intuição, sensibilidade, generosidade e dedicação à coisa pública e à dos menos favorecidos da sociedade.
Aqui, mais uma vez, as pessoas de Alcobaça, de Leiria, de Caldas, etc; conhecem melhor que eu os factos. Mas sei o suficiente para constatar que há uma semelhança e complementaridade na vida profissional do marido e da esposa. Ambos atentos e ao cuidado da sua família e amigos, ambos têm sido cidadãos exemplares de dedicação ao bem das pessoas e da sociedade. O bem pessoal e familiar nunca se sobrepôs ao Bem Comum, ao Bem Público. Nunca se aproveitaram das suas profissões e trabalhos para enriquecer. Receberam apenas os seus salários. Isto é importante sempre, mas muito mais importante nos nossos dias, se prestarmos atenção ao que se diz dos políticos e governantes a todos os níveis.
Assim, parece-me que a Elizabete será uma mais-valia a apoiar o projecto e iniciativa do Dr. Pedrosa. É uma força a mais. Será a âncora firme em alto mar!...

 5. João Tiago / LOTO - O Frei João Domingos está em Angola há já quase três décadas. O Dr. Pedrosa, além de estar na Guiné como médico militar, esteve depois em Angola a trabalhar como médico no norte de Angola. O que é que conhece dele desses tempos?

FJD: Sendo amigo de longa data, fui-me informando do seu trabalho no Uige. Digo Uige porque o seu trabalho não estava confinado à vila da sua residência com os doentes que lhe apareciam, às centenas todos os dias. Ele percorria a província com outros técnicos para detectar e erradicar a doença do sono. Esta doença, que graças ao trabalho dos médicos como o Dr. Pedrosa estava confinada ao norte de Angola e a caminho de extinção, após a independência voltou a expandir-se, e, hoje, já chega a Ndalatando e até a Viana, a 20 kms de Luanda. O que eu ouvi é, portanto, o mesmo que o Dr. Pedrosa tem vivido: dedicação total aos doentes, trabalhando muitas horas para lá do horário de trabalho, não para ganhar mais, mas para atender quem precisava. Esse altruísmo e dedicação ao bem das pessoas, sem olhar à cor, etnia, à situação social ou outra qualquer distinção.
Nisto ele mostrou sempre ser um humanista cristão capaz de lidar e viver e trabalhar com todos, respeitando as diferenças de cada um e cada uma. A todos se dedicava e ajudava.


6. João Tiago / LOTO - Para terminar, quer deixar alguma mensagem aos cidadãos eleitores de Alcobaça?

FJD: Apenas duas palavras: primeira: participem todos e todas nas eleições. Todo o cidadão deve participar e as eleições são momentos chave para determinar o presente e o futuro da nossa autarquia. Se o não fizermos, sofreremos a governação que “outros” nos impõem.
Segunda: votemos de acordo com a nossa consciência. Podemos e devemos ouvir, ler, analisar, ajuizar. Mas a decisão é nossa e o voto é secreto. Cada um vote segundo o que o seu coração lhe diz serem as melhores pessoas para orientarem os nossos destinos. Tenhamos presente os programas de cada partido ou de cada candidato. Mas demos atenção sobretudo às pessoas que se propõem. Pois “é pelos frutos que se conhecem as árvores”. E portanto, é pelas acções que cada pessoa já mostrou na sua vida pessoal, familiar, profissional e política, e não pelas promessas, que nós devemos escolher.
O futuro…somos nós que o construímos. E esta eleição é uma oportunidade única. Boa sorte!


Alcobaça, 21 de Agosto de 2009.



Frei João Domingos, é português, formou-se no Canada, fez estudos pos graduados em Strasbourg e Jerusalém, foi director do Seminário Dominicano em Aldeia-Nova, Oliva, cerca de 8 anos, foi prior dos dominicanos em Fátima 6 anos, director do ISTA (Instituto de S. Tomás de Aquino em Lisboa e professor de teologia sacramental na Universidade Católica Portuguesa (UCP). Mandado para Angola em 1982, foi pároco da missão do Waku Kungo de 1982 a 1988; director do Instituto Médio da Igreja Católica (ICRA), actualmente presente nas capitais de 6 províncias e criou o Instituo Superior João Paulo II, que actualmente dirige.